segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Frasco vazio

  Meia noite de uma terça e já não vejo ninguém nas ruas do centro. Quase todos os bares já fecharam e não há nada além da solidão a me acompanhar. Passos cada vez mais lentos, respiração forte, embrulho no estomago e salivação extrema. Angustia e desespero.
  Uma mulher passa ao meu lado, e eu não sei se sua expressão é de desgosto ou de temor. Talvez seja o cheiro forte do álcool. Se já não fosse suficiente a embriaguez que me consome, ainda tenho de aturar o olhar nojento de gentinha arrogante?
  Passando pelo Largo do Arouche, paro em um boteco para uma dose. Me vejo rodeado de senhores beberrões, gorduchos e falantes, porém minha mente prevalece em uma memória, um rosto. Uma pureza angelical que me acompanhou durante anos, o toque singelo de cada manhã, as bochechas rosadas e o sorriso sincero daquela mulher que me amou intensamente até o gran finale. Ela se foi, sem ter o carinho que realmente mereceu.
  A gritaria está me dando dores de cabeça e eu saio, na esperança de que toda aquela sensação passe logo, só quero me esquecer. Só quero fugir. Cambaleando, de lá para cá, sinto que a qualquer momento posso cair e não me levantar mais. Afinal, em quem vou me apoiar, quem me ajudará? E ao me ver no chão, desato a chorar, não por tristeza ou solidão, mas por auto-piedade: um homem formado de 25 anos e que acaba de compreender os 'males da vida'.
  E quando olho para o lado, as lágrimas caem sozinhas; a minha direita encontra-se um frasco de seu perfume favorito. Aquele cheiro chega em mim como se ela estivesse por perto, como se estivesse falando ao meu ouvido. Como pude ter a perfeição em minhas mãos e deixa-la escapar por entre meus dedos? Ah mulher, se eu pudesse faria tudo que fiz novamente, só pra poder conquista-la mais uma vez.
  Fico ali sentado durante um bom tempo, talvez horas já tenham se passado sem que eu percebesse. Observo aquele frasco vazio, imaginando milhares de situações em que eu e Marieta ainda estamos juntos. Caminhando no parque de mãos dadas, ou sentados no sofá, mas com amor de sobra para dar. 
  Até que percebo que já não sinto minhas pernas, e está na hora de mais um drinque. Levanto devagar, tento me apoiar em qualquer coisa e sigo, rumo ao bar mais perto, ou até onde os ventos quiserem me levar. Talvez seja hora de seguir em frente




                                       Escrito por Ana Caroline Oleski

Um comentário:

  1. Ana Caroline, gostei da dramaticidade que conseguiu criar. Quero que releia prestando atenção nos tempos verbais. O uso do presente - que acontece na maioria e ajuda a criar o tom, às vezes é trocado pelo passado. Verifique tb a concordância logo no início: a maioria estava (sing.)

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