quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Roxo, Lilás e Violeta - Parte I




Toda família tem sua ovelha negra. Não adianta esconder, nem disfarçar, porque ela é onipresente em todas as árvores genealógicas. No caso, a ovelha é minha irmã. E eu sei que é praticamente impossível impedir que uma ovelha negra se destoe do "rebanho", mas o meu casamento não estaria completo sem minha irmã Nielly.

São poucos eventos que conseguem reunir tudo o que mais desgosto numa só edição. E o casamento é um clássico deles. Uma hora de discurso cristão? Dispenso, sou hindu. Um bolo cheio de corante e açúcar? Não, eu tenho amor ao meu organismo. Tias, avós e tias-avós que se acham no direito de cuidar da sua vida? Obrigada, eu passo. Mas eu sou capaz de abstrair tudo isso pela minha irmã.

Há quase seis anos não vejo minha filha Nielly. Seus ideais subversivos a levaram a abandonar sua família no Brasil e partir para o Japão sem nem me avisar. Mas cinco anos mexem muito com a sua cabeça, suas opiniões, seus conceitos, e eu não queria minhas filhas separadas nesse momento tão importante que é o casamento de minha filha Patrícia. 

Ufa! Finalmente no Brasil e finalmente na sala de desembarque. Este pessoal da alfândega sempre enquadra quem foge do senso-comum. Acho engraçado ver minha mãe me procurando do lado de fora. Eu mudei muito, fazer caratê me deixou bem musculosa, meu cabelo agora é roxo, estou mais pálida (o verão japonês não é como o verão nordestino)...chegou minha bagagem. Saio da sala com o sorriso mais carismático que alguém que viajou 19 horas pode fazer.

No aeroporto transitam milhões de pessoas de todos os tipos, dos mais grotescos aos mais elegantes. Olha só, por exemplo, aquela menina: o corpo todo desproporcional, parece homem de tão grande, os cabelos cor de Fanta Uva...agora está se virando pra cá, que estranho, olhou pra mim, abriu um sorriso...espera um pouco, é a Nielly!!??!??!?

"Meu Deus, olha o que 19 horas de voo podem fazer com uma pessoa, mamãe!!" - nada como a ironia para suavizar esses momentos. O sorriso da minha irmã se transforma numa cara amarga; ela me dá um tapa e me manda calar a boca, eu revido o tapa, mas erro e ela ri. "É incrível como vocês não mudam! Parecem crianças!" - nessa hora eu e Nielly olhamos para mamãe. Começamos a rir, primeiro só nós duas, depois todas nós. Uma epifania tomou conta da atmosfera e percebemos ali que, não importavam as crenças, ideais ou aparências. O amor que sentíamos continuava dentro de nós.


Por Julia Brunken

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