terça-feira, 26 de novembro de 2013

A história de Pablo


Desde a morte de sua mãe, há mais ou menos dois invernos atrás, Pablo havia perdido toda sua confiança e esperança na sociedade em que habitava. Aquele suicídio mal explicado havia levado junto não apenas seu porto-seguro, mas também seu lar e sua única mantenedora.
            O tempo havia se passado, porém aquela ferida que se abrirá internamente no seu corpo ainda não havia cicatrizado.
            Era véspera de mais um inverno em Florianópolis, e com ele chegava o desespero para o garoto. Passar aqueles gélidos meses nas ruas novamente ia ser sombrio e pesado.
Pablo até havia conseguido alguns abrigos para ficar desde que perdeu seu único familiar conhecido vivo. Porém sua rebeldia e sua obsessão por liberdade – embora não soubesse ao certo o que essa palavra significava – o fazia fugir desses abrigos e rejeitar ajuda de outros. Dia sim, dia não, o menor de idade ia aos cruzamentos das avenidas principais da cidade, para conseguir algum pouco sustento que lhe servisse para comprar algo que suprisse suas necessidades fisiológicas. Porém, já fazia alguns meses que esse mínimo dinheiro que ele conseguia tinha outro destino. As drogas.
Era uma fria noite junina na capital catarinense, e como de costume o garoto perambulava pelas ruas em busca de algum dinheiro para lhe dar sustento e acesso às drogas, que lhe reconfortavam e lhe davam prazer. Mesmo que pouco.
No entanto, aquele frio de quebrar o queixo o fez parar na porta de um restaurante de esquina num bairro luxuoso da cidade. A porta estava aberta, e o entra e sai de pessoas gerava um bafo quente, que até certa medida estava o aquecendo, e fazendo com que por ali ele ficasse durante um tempo.
Pablo, já não ligava mais para o desgosto com que as pessoas o olhavam, sua pequena felicidade com aquele calor já bastava. Ele sabia que não era bem visto ali, então aproveitava ao máximo aquele conforto antes que alguém o tirasse dali.
Subitamente então, sem ao menos pedir para que ele ir embora, um brutamonte de pele escura, de uns dois metros de altura começou a espancar o pobre garoto. No terceiro murro, que pego no seu supercílio, ele já estava quase desmaiado. Foi quando começou a pensar, o que leva o segurança de um estabelecimento bater em um indigente, só por que ele não combinava com as pessoas do local, sendo que se esse próprio segurança estivesse passando por ali em seu dia de folga, ia ser tão mal visto pelos clientes do restaurante quanto o próprio garoto.
Foi quando, surgiu um cliente pela porta e começou a contestar e empurrar o segurança o chamando de diversas palavras preconceituosas, o xingando e dizendo que ia o prender por bater em um menor de idade. Neste momento, Pablo não sabia mais de que lado ficar. Do lado do preconceituoso social, ou do lado do preconceituoso racial. Não entendia nada.
Ainda meio zonzo, enquanto ouvia gritos e barulhos de socos, contou até dez, se levantou e cambaleando, tentando ir para o mais longe daquele tumulto.
Quando já estava longe, e pensando a muito tempo no ocorrido, o garoto se deitou, ainda com a face toda ensangüentada, numa sarjeta inteira suja. Preferia ficar mesmo, a só e machucado, do que lutando para se integrar em uma sociedade solitária e doente.

Felipe Lima
NA2

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