Desde a morte de sua mãe, há mais ou
menos dois invernos atrás, Pablo havia perdido toda sua confiança e esperança
na sociedade em que habitava. Aquele suicídio mal explicado havia levado junto não
apenas seu porto-seguro, mas também seu lar e sua única mantenedora.
O tempo havia se passado, porém aquela ferida que se abrirá internamente no seu corpo ainda não havia cicatrizado.
Era véspera de mais um inverno em Florianópolis, e com ele chegava o desespero para o garoto. Passar aqueles gélidos meses nas ruas novamente ia ser sombrio e pesado.
O tempo havia se passado, porém aquela ferida que se abrirá internamente no seu corpo ainda não havia cicatrizado.
Era véspera de mais um inverno em Florianópolis, e com ele chegava o desespero para o garoto. Passar aqueles gélidos meses nas ruas novamente ia ser sombrio e pesado.
Pablo até havia conseguido alguns
abrigos para ficar desde que perdeu seu único familiar conhecido vivo. Porém
sua rebeldia e sua obsessão por liberdade – embora não soubesse ao certo o que
essa palavra significava – o fazia fugir desses abrigos e rejeitar ajuda de
outros. Dia sim, dia não, o menor de idade ia aos cruzamentos das avenidas
principais da cidade, para conseguir algum pouco sustento que lhe servisse para
comprar algo que suprisse suas necessidades fisiológicas. Porém, já fazia
alguns meses que esse mínimo dinheiro que ele conseguia tinha outro destino. As
drogas.
Era uma fria noite junina na capital
catarinense, e como de costume o garoto perambulava pelas ruas em busca de
algum dinheiro para lhe dar sustento e acesso às drogas, que lhe reconfortavam
e lhe davam prazer. Mesmo que pouco.
No entanto, aquele frio de quebrar o
queixo o fez parar na porta de um restaurante de esquina num bairro luxuoso da
cidade. A porta estava aberta, e o entra e sai de pessoas gerava um bafo
quente, que até certa medida estava o aquecendo, e fazendo com que por ali ele
ficasse durante um tempo.
Pablo, já não ligava mais para o
desgosto com que as pessoas o olhavam, sua pequena felicidade com aquele calor
já bastava. Ele sabia que não era bem visto ali, então aproveitava ao máximo
aquele conforto antes que alguém o tirasse dali.
Subitamente então, sem ao menos pedir
para que ele ir embora, um brutamonte de pele escura, de uns dois metros de
altura começou a espancar o pobre garoto. No terceiro murro, que pego no seu
supercílio, ele já estava quase desmaiado. Foi quando começou a pensar, o que
leva o segurança de um estabelecimento bater em um indigente, só por que ele não
combinava com as pessoas do local, sendo que se esse próprio segurança
estivesse passando por ali em seu dia de folga, ia ser tão mal visto pelos
clientes do restaurante quanto o próprio garoto.
Foi quando, surgiu um cliente pela
porta e começou a contestar e empurrar o segurança o chamando de diversas
palavras preconceituosas, o xingando e dizendo que ia o prender por bater em um
menor de idade. Neste momento, Pablo não sabia mais de que lado ficar. Do lado
do preconceituoso social, ou do lado do preconceituoso racial. Não entendia
nada.
Ainda meio zonzo, enquanto ouvia
gritos e barulhos de socos, contou até dez, se levantou e cambaleando, tentando
ir para o mais longe daquele tumulto.
Quando já estava longe, e pensando a muito tempo no
ocorrido, o garoto se deitou, ainda com a face toda ensangüentada, numa sarjeta
inteira suja. Preferia ficar mesmo, a só e machucado, do que lutando para se
integrar em uma sociedade solitária e doente.
Felipe Lima
NA2
Felipe Lima
NA2
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