segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

David


David abriu os olhos.
Devia ser por volta das 2 da manhã. A única luz era a da lua, que entrava pela janela do quarto de hotel que alugara para a estadia no Brasil. Seu sobretudo ainda estava pendurado ao lado da cama, a câmera ainda estava á direita do notebook, e Ivan ainda roncava sonoramente na cama ao lado. Tudo estava exatamente como havia deixado...
Exceto pelo anjo que sorria para ele.
Rafael não havia mudado nada desde sua última visita, anos antes. Ainda vestia jeans rasgadas nos joelhos, casaco vermelho simples e tênis que já conheceram dias melhores. Apenas seu boné mudara: em vez da espada alada da marca Hermes, havia uma cruz estilizada da marca Emmanuel. Não havia sinal de vestes brancas ou asas em Rafael, somente um sorriso amigável em seu rosto duro, que tentava conter uma alegria muito maior do que ele mesmo.
Ao ver Rafael, David virou-se instintivamente para Ivan, preocupado se ele enxergaria o celeste também, mas então entendeu que o cameraman não acordaria tão cedo, fosse pelo poder de Rafael, fosse por ter exagerado no jantar, gastando toda a sua energia no banheiro depois e deixando uma fila de hóspedes apertados reclamando na porta.
Ao tentar se virar novamente para Rafael, só teve tempo de ver de relance o relâmpago de casaco vermelho antes de ele acertá-lo com todo o peso de seu corpo. Meio segundo de torpor e David se viu preso no abraço do anjo, que falava uma infinidade de palavras de alegria, de saudade e de ânimo (as quais David poderia entender muito melhor se Rafael afrouxasse o abraço e o deixasse respirar).
Quando o celeste o soltou, David inspirou uma grande golfada de ar frio e finalmente falou, ainda tentando respirar melhor:
– Rafael... o que você faz... aqui?
– Vim falar com você – respondeu, parecendo uma criança enorme no natal –, Ele permitiu que conversássemos frente a frente desta vez.
– Ele? Por que Ele... permitiria depois de tanto... tempo?
– Porque Ele sente saudades de você. Eu também. Ele te quer de volta, David – o nome de David parecia ter um gosto especial que dançava na língua de Rafael –, Ele se cansou de esperar tanto.
Com a respiração normalizada, David deu vazão à ira.
– Então por que Ele não desceu para falar comigo cara a cara? Por que mandar você em vez de tratar direto comigo? Por que Deus se esconde de mim desse jeito?
O sorriso de Rafael murchou, dando lugar a uma expressão mais séria e um pouco triste.
– Porque você não o aceitaria. E Deus não precisa se esconder de você. Você escolheu não falar com Ele todos esses anos, mas estávamos sempre com você.
– Eu fiquei no escuro durante todo esse tempo e ninguém se dignou a me dizer uma só palavra.
Rafael agora parecia estar tentando explicar uma conta simples para um aluno do primário que não entendia nada:
– Você não viu nada? Todas as vezes que alguém te dava uma mensagem de ânimo, ou quando você via algo escrito pela rua, você jura que não entendia nada? Éramos nós, David! Tentávamos falar com você de uma maneira que entendesse, éramos nós através deles, te dizendo para voltar ao amor que você conheceu em nós, para vencer seu passado e seguir em frente numa caminhada conosco! Como você diz que Deus não fala com você, se Ele fala com todos?
A breve expressão confusa de David transformou-se numa fúria muito maior. Levantou-se, olhos fixos em Rafael.
– Não venha fingir pra mim que vocês se importam mesmo com alguém daqui de baixo. Tem idéia do que tive que passar desde que vocês sumiram? Se há alguém lá em cima que me ama, onde está a merda da proteção? Por que não me pouparam de tanto mal?
– Você acha que é tão simples? Que era só você estalar os dedos que eu pousaria no seu ombro? Nunca te prometemos uma vida fácil. Não é por falar com o Céu, coisa que você não faz mais, que você ficaria livre dos problemas da Terra. Enquanto você reclamava da vida, eu estava no meio de uma guerra. David – deu um passo a frente, ficando cara a cara com ele, e tocou a cruz em seu boné –, jamais duvide de até aonde nós vamos para proteger você.
Ao ouvi-lo falando de proteção, uma cena de anos antes regressou a sua mente. David havia confessado a Rafael, numa madrugada fria como aquela, que não se sentia seguro por medo dos demônios. O anjo lhe respondera que revelaria sua verdadeira aparência a David para que ele passasse a confiar nele e no Deus que o havia designado para estar ali. Afastara-se, então, e uma luz vinda sabe-se lá de onde enchera o quarto com tal intensidade que David pensara estar dentro do sol. Pusera o braço à frente dos olhos imediatamente e sentira que aquela luz aniquilara toda e qualquer escuridão que houvera no quarto na fração de segundo anterior. Procurara enxergar os objetos do quarto à sua volta, e vira que eles de alguma forma respondiam à luz; suas cores estavam muito mais vivas, muito mais reais, e davam a impressão de quererem ultrapassar os próprios objetos a que pertenciam. Se houvera algum som na ocasião, já não sabia dizer.
À deriva naquela inundação de luz e cor, abaixou o braço para tentar enxergar Rafael, mas não foi o amigo que viu. Em seu lugar estava um ser à semelhança de um homem enorme, com uma armadura que não era de nenhum metal encontrado na Terra. Possuía uma grande espada presa à coxa, cujo botão tinha a forma de uma pirâmide de 3 faces cuja base era um globo. Desdobrando-se de suas costas, surgiram 4 asas gigantescas e
fortes que, contra toda noção de espaço, estendiam-se tranquilamente pelo quarto, que conseguia contê-las. Era difícil ver o rosto do ser em meio à luz, porém discerniam-se alguns traços duros, encimados por um elmo com o formato de uma fortaleza quadrada.
O anjo agitara suas asas, soprando uma leve brisa sobre David, porém a própria realidade vibrara com o movimento das asas. Percebera, então, que o anjo era a fonte da luz, e que a parte mais brilhante de tudo era a árvore branca ornamentada na placa de peito do celeste. Não fora ela, contudo, que mais atraíra a visão de David, tampouco fora ela que gelara sua alma e que o deixara noites sem dormir de espanto, mas sim os olhos do anjo. Sim, havia algo nos olhos. Eles eram de todas as cores, e de nenhuma. Havia fogo naqueles olhos, uma energia poderosa demais para ser suportada, era o que tornava os olhos dele tão terríveis. Ao olhar para eles, David de alguma forma soube que vida, morte, luz, trevas, frio, calor e toda a existência encontravam um fim naqueles olhos.
Fora dessa maneira, olhando nos olhos do celeste, que toda resistência física, emocional e espiritual de David fora quebrada naquele instante, e ele caíra no chão, rebentando em choro e escondendo o rosto. Morte, Céu, Inferno, tanto fazia, ele só queria fugir da presença daquele ser terrível. Estar diante dele era insuportável. Gritara, então, para que Rafael o ajudasse, e gritara por Deus, pedindo para que não fosse destruído. Na mesma hora, ainda de olhos fechados, David sentira a luz ir embora com a mesma rapidez com que viera, ouvira o baque surdo de algo caindo ao chão e sentira uma mão em seu braço. Com receio e se recuperando do terror que o dominara, David levantara os olhos só para dar de cara com o sorriso amigável do esfarrapado Rafael, ajoelhado à sua frente.
“Percebe?”, sussurrara, “Quando os demônios vierem, não é você que vai sentir medo”.
A lembrança da visão do anjo guerreiro fez com que David baixasse a guarda. Rafael aproveitou seu silêncio para dizer:
– Você não percebeu, mas te poupamos de muita coisa. Nunca saímos do seu lado, mesmo você guardando mágoa de nós. Deixamos a sua raiva assentar durante os últimos anos, e agora estamos te chamando de volta, como fazemos a muito tempo de uma forma menos direta. Deixe o ressentimento de lado por um momento e tente lembrar-se do que você tinha junto a Deus. Você era alegre, sabia qual era seu propósito na vida, coisa que muitos humanos morrem sem saber. Você tinha amor, tinha uma vida que valia a pena, tinha promessas acima da média...
– E tinha uma namorada – disse David. Até aquele momento mantivera o silêncio, sabendo que Rafael falava a verdade. Mas ao ouvi-lo falando daqueles tempos, era impossível não pensar em Rachel, e assim toda a raiva voltou – Ela não merecia o que aconteceu a ela. Onde estavam vocês naquela hora?
Rafael ficou visivelmente triste ao ouvir falar da ex-namorada de David, mas não era uma dor de arrependimento como este último esperava, e sim uma dor solidária, como se o anjo estivesse tentando tomar as dores do humano.
– Rachel também teve uma chance. Ela podia ter escapado com vida, mas a verdade é que ela nunca realmente escolheu Deus como você, por isso não havia garantias de...
– “Não havia garantias?!” – a ira e o tom de voz David subiram, ao passo que seus músculos se retesaram, como se estivesse prestes a avançar em Rafael – Estamos falando de uma vida, Rafael! Como Deus permite que uma pessoa boa morra daquela forma? Rachel não fez nada para merecer aquilo.
– David, não nos acuse, fizemos tudo para que aquilo não atingisse proporções maiores. Todas as pessoas foram alertadas, cada uma de um jeito diferente, que não deviam estar lá naquele dia, inclusive você. Muitos morreram, sim, mas sem nossa ajuda teriam sido muitos mais! E mais: a morte de Rachel só foi a mais cruel porque não era ela o alvo dos demônios, era você. Eles não queriam só matar pessoas, eles queriam destruir as vidas dos sobreviventes pouco a pouco, queriam que você vivesse aterrorizado e triste para o resto da vida!
David finalmente explodiu:
– POR QUE NÃO FUI EU NO LUGAR DELA? POR QUE MINHA VIDA VALEU MAIS QUE A DELA? POR QUE EU NÃO PUDE FAZER NADA, PORRA? SEM A RACHEL EU JÁ ME SENTIA MORTO! – as lembranças vieram todas de uma vez, todas as que David reprimia todos os dias, passando como um filme em alta velocidade e se repetindo várias vezes na mesma seqüência: a praia, as casas pegando fogo, o céu da noite totalmente escondido pela fumaça, o cheiro dos corpos queimando, Rachel toda machucada, imóvel no chão de areia, a corrida de David, em estado muito pior que o dela, até o local, a mão do demônio descendo como um raio sobre o rosto de David, fazendo a ferida por cima do olho que nunca sairia, o tombo sem forças na areia, o sorriso inumano do possuído ao olhar para a garota, a boca escancarada sobre a garganta dela, o grito que Rachel nunca deu, o som sufocado de sua voz em resposta à mordida que arrancou sua carne, o suspiro de prazer do demônio com metade do pescoço de Rachel na boca, a enchente de sangue do corpo trêmulo dela e a fuga do monstro por entre as chamas.
Desde aquela noite, David não se voltara mais para o Céu.
A onda de lembranças foi demais para David, e ele caiu de joelhos no chão, chorando. A angústia, a dor, a raiva, a sensação de impotência, a solidão e a mágoa, guardadas por tantos anos, agora se condensavam em água e saíam pelos olhos de David. Em meio às lágrimas, reconheceu os contornos de Rafael ajoelhando-se na sua frente e sentiu-o abraçando-o. De início, recebeu mal o gesto, mas por fim seus músculos se afrouxaram e largou-se aos braços do anjo, que chorava com ele. Podiam ter ficado anos naquela posição que pareceria a mesma coisa para David, mas então os primeiros raios de sol caíram sobre os dois, vindos da janela, e começaram a mudar a cor do céu do azul calmo para o roxo triste, e depois bem devagar para o laranja quente e acolhedor. A essa altura, os soluços de David estavam menos freqüentes e os de Rafael já haviam parado. Finalmente, o anjo disse com uma voz profunda:
– Durante muito tempo, você carregou sozinho um fardo pesado demais, David. Quanta tristeza você já suportou sem dizer uma só palavra a ninguém! Mas agora você não precisa mais. Estamos aqui, David, todos nós. Você vai viver uma vida totalmente nova, uma com propósito, você vai amar e ser amado. Este é o propósito da criação de sua espécie, é para isto que existem, mas sua existência não faz sentido sem a presença de Deus. Aceite-o, e Ele vai te aceitar. Você poderá dividir seu fardo com Ele até o dia em que puder largá-lo, e Ele jamais vai te abandonar. Você quer isso, David? Quer conhecer o Amor como nunca conheceu e começar de novo?
E pela primeira vez em anos, David sentiu que estava fazendo a coisa certa. Assentiu com a cabeça. Rafael sorriu e disse:
– Então bendito seja, meu amigo.
E o abraçou mais uma vez. De repente, David sentiu que mais três pessoas o abraçavam, e aí veio uma onda de calor gentil que aqueceu seu coração, e o fez sentir que tudo estava bem de novo...
David abriu os olhos.

Pietro Liberato Chiacchio

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Trauma

Em uma sexta-feira à tarde fui convidada por João, um menino que conheci no carnaval, para ir até sua casa, à noite, vermos um filme. Aceitei o pedido, afinal, ele era um menino legal.

Chegando lá, cozinhamos algo juntos, conversamos e demos boas gargalhadas. Há muito eu não me divertia tanto com um menino. Há tempos não me sentia confortável daquele jeito com um homem. Papo vai, papo vem e quando vi, João veio ao meu encontro e me beijou. Eu estava me sentindo tão bem, que retribui e então começamos a nos beijar fortemente.

Ele me levou até seu quarto, deitamos na cama juntos, ele pôs seu corpo sobre o meu e começou a acariciar as minhas pernas assim como... meu pai um dia havia feito. Nesse momento, congelei. E me lembrei.

Era tarde já quando cheguei em casa da escola muito cansada. Tão cansada que fui direto para a cama dormir. No meio da noite, acordei em pé ao lado da cama de meu pai. Então percebi que havia virado sonâmbula. Quando meus olhos acostumaram com a escuridão do quarto, olhei para baixo e vi meu pai olhando para mim. Ele disse “Vem filha, deita aqui com o papai”. Eu deitei, sentia segurança ao seu lado.

De repente, começou a beijar o meu pescoço de forma estranha. 

Quando entendi o que pretendia fazer, congelei. A única coisa que consegui fazer foi cruzar os braços contra meu peito em uma tentativa de me defender, de dizer não a sua atitude. Eu era muito infantil, não consegui reagir, não consegui levantar da cama. Apenas travei. Ele pôs seu corpo sobre o meu e começou a acariciar as minhas pernas de fora para dentro. Isso fez com que eu as fechasse com força, mas ele continuou me beijando no pescoço e fez uma primeira tentativa para abaixar meu short, só que minhas pernas continuavam travadas e ele não insistiu.

Então começou a fazer movimentos estranhos para cima e para baixo sobre o meu corpo enquanto retirava sua calça e cueca. Eu estava tensa, nervosa, assustada. Nisso, ele fez uma segunda tentativa para abaixar meu short, mas eu continuei travada. Só que desta vez, ele não desistiu e agiu com brutalidade. Tirou-o a força enquanto eu dizia “Não!” e me debatia contra a cama. Meu short foi puxado com tanta força, que suas unhas chegaram a arranhar minhas pernas. Ele pôs-se sobre mim novamente enquanto abria minhas pernas e conseguiu o que queria. Eu nunca imaginei que meu pai fosse um dia fazer aquilo comigo, e neste dia, eu perdi a minha pureza e meu afeto para com os homens.

João olhava para mim com uma cara de assustado e perguntou: “O que houve? Porque está com essa cara?” A única coisa que fiz foi retirá-lo de cima de mim e sair correndo pela porta da frente com a intenção de nunca mais voltar.

Por: Larissa Oliveira 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Amor sem limites



Era segunda-feira e o sol atribuía um brilho irritante à lataria dos carros, em fileiras de congestionamento que iam além do que Marcos conseguia enxergar pelo retrovisor.

O relógio digital afixado no painel do seu furgão, mostrava que era pouco mais de 17 horas e, mesmo encurralado pelo caótico trânsito de São Paulo, o homem acompanhava as ondas do rádio e esboçando um sorriso malicioso no rosto, cantarolava uma melodia country.

Sua felicidade não era em vão. A “colheita” tinha sido proveitosa. Seu coração palpitava. Sua excitação era desenfreada e regada por maldade. Marcos era, sem sombra de dúvidas, um homem de gostos excêntricos.

Quando a escuridão tomou conta dos céus, finalmente chegou à sua casa, herança do falecido (e ligeiramente milionário) pai. Com um toque em seu iPhone, acionou o portão eletrônico e, em seguida, estacionou o veículo.

O portão fechou-se alguns instantes depois, acompanhado por um baque seco.

Ainda dentro do carro, esperou em silêncio por alguns minutos. Achava que  o que estava para ser feito era parte de um plano genial e requeria, para que aproveitasse todas as etapas por completo, calma. Afinal, o que seria do artista sem o seu processo de produção?

Em passos lentos, foi até a frente do porta-malas e o abriu. Seus olhos brilharam. Sua respiração foi interrompida por alguns segundos.

Marcos havia raptado duas irmãs gêmeas, que aparentavam ter menos de quatro anos de idade. Elas vestiam saias azuis e o tule que ornamentava as peças, tremia junto aos seus corpos, delicados, frágeis e apavorados. O choque que tiveram ao se darem conta de que haviam sido raptadas, fez com que ficassem mudas, mas seus olhos verdes e pequenos,  gritavam por socorro.

Após levá-las ao porão de sua mansão e deixá-las desemparadas ao lado de uma maca de metal, vestiu um avental branco, tinto por sangue já seco e colocou um disco de jazz para tocar em sua vitrola, já enferrujada pelo tempo.

O ar cheirava a medo.

Virou-se às garotas e, com um olhar profundo, deu início ao trabalho. Uma serra elétrica tornou-se sua companheira no crime.

O trabalho não demorou até ser finalizado. Marcos enxugou o suor que aglomorou-se em sua testa com o auxílio da manga de sua camisa e após limpar e guardar a ferramenta que utilizou, contemplou o seu resultado. As gêmes foram cruelmente (mas cuidadosamente) esquartejadas. O sangue inundava o chão e a morte tomava conta do porão.

Retirou o avental e com passos sedutores, foi até uma grande jaula localizada ao lado esquerdo do porão. O único som que agora quebrava a escuridão fúnebre do local, era de um relógio cuco suíço pregado à parede.

- Boa tarde, meu amor. Trouxe algo especial para o seu jantar.

Carlos estava preso naquela gaiola há cerca de três semanas. Pelo desejo do assassino, a carne humana tinha se tornado seu principal alimento. O prisioneiro ergueu o rosto com certa dificuldade e cerrou os olhos até focalizar Marcos. O tempo que passou ali, fez com que a vida esvaísse de si. O seu corpo, que outrora fora uma fonte de beleza (e de suspiros de homens e mulheres), estava agora, esguio. A esperança de novamente ter uma vida era remota. Carlos havia se conformado com o desterro.

Marcos deixou alguns pedaços da carne ao lado da jaula, de modo que seu amigo de faculdade pudesse alcançar e, com uma alegria incomum, colocou outro disco para tocar. Precisava comemorar a sua vitória. A arte era muito importante e deveria permear todas as suas ações.

O preço que Carlos pagaria por não ter aceitado a paixão incondicional de Marcos, era a sua própria vida, isolada na escuridão e com a companhia da podridão.

Ninguém poderia dizer um não a Marcos. Ninguém poderia contê-lo. E, à partir deste momento, ninguém poderia fugir da maldade ainda maior que estava por vir.

Por: Édson Luís

Skatista

Bom, depois de muito tempo decidi voltar para o Brasil, na viagem fiquei imaginando se la no aeroporto estariam fãs ou até familiares me esperando já que sou famoso e fiquei muito tempo fora mereço esse tipo de tratamento.
Quando cheguei, não havia ninguém me esperando, apenas os trabalhadores do próprio aeroporto, não fiquei chocado no fundo eu já esperava essa atitude, mas não da minha família nem eles estavam lá.
Peguei um taxi e fui para casa, esperando descobrir o motivo pelo qual nem meus pais foram me buscar no aeroporto, chegando em casa vi meus pais na sala de jantar, se preparando para comer, quando reparei que só haviam 2 pratos na mesa.
Eu : - Boa noite, por um acaso esqueceram que eu ia chegar hoje no aeroporto ?
Pai : - Boa noite, na verdade não esqueci, apenas achei desnecessário ir te buscar.
Eu : - Como assim, eu fico tempos fora e nem me buscar vocês vão, cadê a consideração da família.
Pai : - Pra quem esquece a família durante anos, nem uma ligação fez, está pedindo de mais não acha não ?
Após isso, peguei minhas coisas e fui para um hotel, no dia seguinte estava voltando para os Estados Unidos de onde nunca deveria ter saído ! 

Por: Leonardo Alexandre

Malas prontas

O dia começou normal para Marina. O sol bateu na janela e ela logo respondeu abrindo-a, deixando o sol entrar e instalar-se como se fosse um morador da casa.

Tomou seu café da manhã normalmente, arrumou seus materiais, pegou sua bicicleta e partiu para a escola onde dava aula.

O sol estava forte e Marina logo sentiu sede, resolveu parar em uma casa para pedir um copo de água. Do sobrado branco escolhido, saiu Guilherme, que foi simpático e deu a Marina uma garrafa de água, dizendo que ela podia levar consigo e entregá-lo depois, num segundo encontro.

Marina agradeceu a gentileza e sorriu, como forma de consentimento a proposta do rapaz. Marina e Guilherme trocaram telefone e decidiram se encontrar após a apresentação de Marina, que encenaria Capitu em uma peça que vinha ensaiando há tempos.

Guilherme ficou encantado com a atuação da moça, e durante a cerveja que tomaram depois da peça, não conseguiu parar de elogiá-la. Os dois descobriram ter muito em comum, como por exemplo a paixão por viagens; decidiram, então, colocar a mochila nas costas naquela noite e ver o sol nascer na estrada.

Por: Caroline Marques

Abraço fixo

É dia de espetáculo. O circo está em movimento, como acontece todas as vezes em que a bilheteria atinge o nível máximo de ingressos vendidos. Nhã há ameaça de chuva e a plateia começa a chegar, disbaratinadamente, vão se acomodando em busca do melhor ângulo para assistir aos números. Palhaços, mágicos, domadores, já se aprontam para que o número esteja impecável. 

Céu também se apresentará esta noite e sabe que deve se preparar, pois, sendo ela malabarista, sempre estará a mercê de perigos, devido á altura. Para ela, esta seria uma apresentação qualquer, não fosse hoje um dia que sempre lhe traz muita dor. Dez anos se passaram desde o dia do acidente, e, as imagens continuam nítidas em sua lembrança. Ela sempre foi grata pela família que ganhou no circo, mas nem mesmo a mulher barbada, com toda a potência do seu abraço, maximizada pela força dos seus braços fortes, consegue afagar a falta que seus pais lhe fazem.

O domador acabara de sair da Arena, é chegada a hora de Céu se apresentar. Sua transpiração conseguiu umedecer o cal que molhara as mãos. Primeiro salto: uma das mãos se solta, mas logo volta a base; segundo salto: O impulso é insuficiente para que seus pés cheguem até o outro malabarista; terceiro salto: silêncio na arena, olhares amedontrados e Céu, lá embaixo, deitada, vencida pela sua própria insuficiência sentimental. Seu choro conteve seus movimentos e permitiu sua queda, como se a gravidade mostrasse suas forças de uma única só vez.

O cuspidor de fogo conhece Céu mais do que qualquer outra pessoa em todo o circo e, sabe como ela se sente nesta data. Sabia que, a qualquer hora ela poderia dar sinais de sua fragilidade, mas não esperava que, algo como a queda poderia acontecer. Ele entrou na arena, pegou Céu pelos braços e retirou-a da base que amorteceu sua queda. Não mais em silêncio, a plateia começa a reclamar o espetáculo. Já dentro do trailer que Céu morava, a doce menina começa a recobrar a consciência. Não lembra-se exatamente como deu-se a queda, mas contou ter visto antes de tudo se apagar, a imagem de seus pais, abaixo dela, com vestimentas brancas e sorrisos largos. Céu havia soltado as mãos do balanço para ir ao encontro de seus pais, ela agora já tem ciência de que tudo não passou de uma alucinação. A imagem de seus pais só veio a tornar-se concretas enfim, quando ela a registrara em sua pele, em mais uma tatuagem, entre aquelas que cobriam seu corpo.

Por: Dennise Brito 

domingo, 1 de dezembro de 2013

A Pobre Menina


Era uma noite , uma menina estava caminhando pelo campo. Ela estava sozinha , tinha várias flores vivas coloridas nas laterais, um pouco molhado, com os pes no chão um decia , passo a passo. O rosto pálido , de repente, olhou para o céu estrela, tinha uma fogueira que lhe chamou a atenção , virou a cabeça lentamente para a direita e viu onde ela sobriviveu : era uma caverna e perseguiu-a caminhar para ela. Escondido embaixo dos arbutos observando as pessoas que estavam em movimento. Ouviu passos que se aproximavam , e seu coração acelerou . Logo essa pessoa aparentamente da mesma idade foi atrás dela. As duas se assustaram , porem não houve gritos. Olhou para o colar da menina. E fez o sinal de mostrar o sujeito " eu ", enquanto ela disse o nome "Perola" e apoiou a mão sobre o peito dela e disse " Vitória " o que estava escrito no colar . Elas tentaram se comunicar melhor, porque a vitória era um membro da família dos índios da ilha e falavam uma língua diferente. Poucos minutos depois , Perloa fez a Vitória se sentisse mais segura , motivada agarrou a mão para levar a família . Eles ficaram surpresos ao ver o rosto da menina pois relembravam o rosto da jovem que havia morrido na ilha, há dez anos atras. Vitória que se parecia com a mãe , o cujo nome também era Vitória .



Escrita por Lidia Soares